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‘Erro’ de estoque ajuda varejo a vender

Destaques2Varejistas que se estocaram em volume acima do necessário nos primeiros meses do ano conseguiram desovar o excedente entre o fim de maio e junho.

O “erro” no cálculo dos estoques e a forte ruptura no processo de distribuição de produtos da indústria ao varejo, causada pela greve dos caminhoneiros, acabaram ajudando a ampliar a venda de algumas redes no fim do primeiro semestre.

“Foi o erro de se estocar mais que acabou se transformando num acerto”, disse o diretor de uma rede paulista que preferiu não se identificar.

“Ouvimos, de algumas redes, que um estoque mais carregado foi sendo desovado após maio, mas não eram estoques gigantescos. Isso assegura um ganho de participação de mercado, mas pode ser pontual”, disse Rogério Soares, sócio da consultoria Enéas Pestana & Associados.

Cadeias de supermercados como Hirota e St Marche se beneficiaram da ruptura na distribuição de mercadorias sentida no mercado, apurou o Valor.

Entre os atacadistas, Makro e Roldão entraram o mês de maio com estoque na loja acima da média do período e afirmam que venderam mais.

A Via Varejo, dona das redes Casas Bahia e Ponto Frio, iniciou o segundo trimestre com estoque alto, para atender uma expectativa de alta demanda de maio e junho. O estoque em março atingia 108 dias, versus 79 dias um ano antes. O volume se concentrava especialmente nos centros de distribuição da empresa pelo país – áreas que ficaram isoladas por causa da greve dos caminhoneiros.

Nas lojas, em março, o valor estocado na Via Varejo estava 15% acima do ano anterior. Nos centros de distribuição, a soma era 27% maior. A empresa começou a implementar a política de reforçar estoque em lojas neste ano, com a criação dos minigalpões (“minihubs”), mas isso ainda está limitado a uma parte das unidades.

No caso do Magazine Luiza, a empresa fechou março com um valor estocado 33% maior do que um ano antes – em torno de R$ 1,9 bilhão. Em teleconferência em maio, a empresa disse que tinha em loja mais produtos “leves” do que “pesados” – estes alocados nos armazéns. Os “leves” podem ser celulares e os “pesados”, refrigeradores, por exemplo. A empresa começou a instalar “minihubs” em suas lojas em 2017.

“Com a crise no abastecimento, ficou evidente para as redes que os minigalpões nas lojas podem ser mais estratégicos até do que as próprias empresas pensavam”, diz um executivo do setor.

A rede de atacarejo Roldão informou que o maior volume estocado em maio trouxe ganho ao negócio. “Tínhamos 15 a 20 dias de estoque, com parte disso na loja, que atenderam bem a nossa demanda após a greve. Mas em junho tivemos que retomar as negociações, e com preços mais altos em algumas categorias”, diz Ricardo Roldão, presidente da atacadista Roldão. “A gente deve ter um ganho de participação de mercado pontual por causa disso”, diz ele, acrescentando que a rede não estava “superestocada” antes da greve. “Era um volume maior que nos ajudou.”

Segundo o comando da cadeia de atacado Makro, o período de junho “não foi ruim” porque a rede já vinha bem estocada.

“A gente tinha um patamar mais alto de venda e de estoque considerando todas as mudanças que temos feito na empresa [a rede está ampliando a venda ao consumidor, braço chamado ‘atacarejo’]”, disse Marcos Ambrosano, presidente do Makro. “O que aconteceu foi que todo mundo que dependia da entrega da indústria veio se abastecer nas lojas da rede.”

Para se ter uma ideia de como esse efeito se estende por um certo período, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) afirmou que nos 10 dias após o fim da greve, encerrada entre 30 de maio e 1º de junho, as lojas sentiriam algum problema de desabastecimento. A Eletros, entidade do setor eletrônico, estimou impacto de 15 dias.

Levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC) divulgado em junho mostrou que, duas semanas após a crise de abastecimento, 15% dos varejistas de 17 Estados ainda consideravam que o nível dos seus estoques estava “aquém do adequado”, portanto, com falta de mercadorias.

Na prática, estoques precisam de alto giro porque eles afetam o custo fixo de uma rede. Produto parado na loja eleva gastos com manutenção e gestão. E há capital empregado na compra da mercadoria.

“A greve pode ter escondido algumas falhas na gestão comercial. Se a rede conseguiu, por causa de um evento inesperado como a greve, desovar produtos que estavam parados muito tempo no estoque, isso não é um bom sinal”, disse o consultor Rogério Soares.

Economistas e redes estimavam uma retomada nas vendas mais acelerada no varejo na primeira metade do ano, mas a greve afetou maio e parte de junho. Em maio, houve queda de 0,6% no volume vendido no varejo restrito (que exclui automóveis e material de construção) sobre abril, segundo o IBGE. Os dados de junho ainda não foram publicados.

Fonte: Valor Econômico

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